sábado, 24 de outubro de 2015
quinta-feira, 22 de outubro de 2015
Para lembrar um grande amor: Bar do Carlito
Muito Além
das Garrafas
Já pertenci
a uma tribo. A nossa aldeia ficava numa praça e um bar era a nossa oca.
Sentados em
volta de uma mesa, a vida era celebrada. O cacique, que era o dono do bar,
chamava-se Carlito e tinha um poder especial para unir as mais diversas tribos
à sua volta.
Neste
verdadeiro conselho tribal, vivemos e vencemos várias batalhas.
Batalhas que
faziam parte de tantas guerras que nem nós sabíamos
precisar quantas.
precisar quantas.
Guerras de
consciência e de gerações, conflitos políticos e econômicos. Este último item,
então, era uma batalha constante, pois nossos bolsos estavam quase sempre
vazios.
Mas, o
Carlito sempre dava um jeito de pendurarmos nossas continhas (modéstia minha).
Não era por isso que sairíamos sóbrios.
Na falta de um
adversário, às vezes, brigávamos, verbalmente entre nós mesmos. Discutíamos por
tudo. Desconfio
até que alguns discordavam de opiniões só para dormir com mais um discussão no
currículo.
Nos bons tempos, o Carlito fechava o bar, mas ninguém saía. Aí a coisa partia para a conspiração e as confidências giravam entre cúmplices.
Nos bons tempos, o Carlito fechava o bar, mas ninguém saía. Aí a coisa partia para a conspiração e as confidências giravam entre cúmplices.
A coisa ia
até quatro, cinco horas da manhã, no máximo. Afinal, os compromissos nos esperavam.
E sem compromissos como iríamos abater nossas contas, que muitas vezes mais
pareciam prontuário de bandido famoso?
Mesmo
sabendo que desta oca jamais sairíamos sem tomar uma e muitas outras, de vez em
quando pagávamos a dolorosa. Fazer o quê? O Carlito tinha que sustentar sua
família.
Amigos iam,
amigos vinham, mas era batata encontrar sempre alguém para bater um papinho e
tomar uma gelada tirada da Jandira (apelido que o Carlito deu ao freezer).
Se a casa
estivesse freqüentada por um desafeto, a solução era conversar
com o mesmo e quebrar o gelo. Quantos amigos cultivamos desta forma...
E tinha o
Carlito, espanhol que chegou ao Brasil com 12 anos para nunca mais voltar.
Ficou também algo de seu sotaque. Só isso, pois o idioma espanhol esqueceu.Não
deixava de falar cervessa, por exemplo.
Homem de bom
humor, tirador de sarro, perdia o cliente, mas não a oportunidade de fazer uma
brincadeira.
Dono de
ótimo coração, apesar das duas pontes de safena, o Carlito ouvia todas as
conversas ao seu redor. Às vezes, de acordo com a amizade, intervinha para
acrescentar alguma tiradas bem humorada ou para dar uma “gossadinha” de nossa
cara.
Dos 36 anos
de existência do bar, o Carlito nos aguentou, pelo menos, 20.
E num reduto democrático, como todo boteco que se preza, falávamos de tudo e de todos,
inclusive do próprio dono.
Pois é, já
pertenci a uma tribo, onde nossos programas de índio eram feitos ou planejados
na oca do Bar do Carlito.
Depois, um
mudou, outro casou, outro morreu e o bar foi se esvaziando.
Ir lá, só
para ficar nostálgico. Alguns
resistentes ainda frequentavam. Eu, traidor, fiquei com um pé numa canoa e
outro em várias. Reconheço.
Percebi isso
no dia em que paguei minha quase eterna contas. Paguei, não abati como fazia há
anos e não abri outra. Lá se foi um péssimo, mas delicioso hábito. Querem coisa mais gostosa do que beber,
comer, conversar e depois virar as costas e tchau, Carlitos?
Carlito,
nunca me despedi de você. Não o fiz por ter
a certeza de que você sempre está atrás do balcão, como nos velhos tempos. Na
minha memória, pelo menos, você é eterno.
Saudades até
de quando você nos expulsava, vendo as horas sumirem com nossos goles de
cervejas.
Como quando você fingia não ter ouvido que era a saideira e, mesmo
reclamando, colocava outra e mais outra, outra, outra....
O nosso
Carlito foi para o balcão da eternidade em 1996, mas sempre estará ao nosso
lado pelos bares da vida.
Neri, Carlito, Guto e este que vos tecla, Washington
PS. O co-editor deste blog, Américo Vermelho, não gosta de textos grandes, mas vai entender os motivos que levaram o seu confrade a publicar este com tantas letras de nostalgia.
sábado, 17 de outubro de 2015
Bar do Zé, um pé sujo como é: de verdade
Cícero, Richard, Zé, Vitor, Serginho, Toninho e Washington,
na bela fachada de um bar em que está inscrito que é um lar
Voltamos ontem ao bucólico pé sujo da Barão de Guaratiba, no Catete para constatar várias verdades.
Verdade que o Zé continua sendo o Jamelão do balcão
Ranzinza e bem humorado, Zé fala na lata o que pensa, mas sem perder a ternura jamais.
Verdade que a cerveja de 600 ml continua geladíssima e que o sanduíche de calabresa continua sendo da melhor qualidade, sabor e aroma.
Verdade que os frequentadores, como o nosso amigo Toninho, continuam bem humorados, sarcásticos e nos recebem, anfitriões que são, como se fossemos as primeiras visitas.
Verdade que a trilha sonora, selecionada por um dos maiores conhecedores de música do Rio, o Toninho, continua sendo das melhores. Samba e jazz para ninguém botar defeito.
Verdade que sempre conhecemos novas amizades, apreciadoras de um bom pé sujo, como foi o caso do Richard, que veio a pé depois com a gente, até o Principado da São Salvador, beber mais uma(s) saideira.
E verdade final, que saímos de lá como sempre: embriagados, cheios de amor para dar, com a alma encharcada de cerveja e repleta de lirismo.
Grande Zé e grande e carinhosa Dona Nete.
Obrigado pela acolhida.
Voltaremos sempre. E isso não é uma ameaça.
PS. As duas primeiras fotos são do grande poeta das lentes, Américo Vermelho, co-editor deste blog, em ano sabático desde 2012.
As outras fotos são deste humilde e mediano escriba, Washington, que quase sempre deixa de retratar com precisão o que suas vistas ainda vêem com exatidão.
na bela fachada de um bar em que está inscrito que é um lar
Voltamos ontem ao bucólico pé sujo da Barão de Guaratiba, no Catete para constatar várias verdades.
Verdade que o Zé continua sendo o Jamelão do balcão
Ranzinza e bem humorado, Zé fala na lata o que pensa, mas sem perder a ternura jamais.
Verdade que a cerveja de 600 ml continua geladíssima e que o sanduíche de calabresa continua sendo da melhor qualidade, sabor e aroma.
Verdade que os frequentadores, como o nosso amigo Toninho, continuam bem humorados, sarcásticos e nos recebem, anfitriões que são, como se fossemos as primeiras visitas.
Verdade que a trilha sonora, selecionada por um dos maiores conhecedores de música do Rio, o Toninho, continua sendo das melhores. Samba e jazz para ninguém botar defeito.
Verdade que sempre conhecemos novas amizades, apreciadoras de um bom pé sujo, como foi o caso do Richard, que veio a pé depois com a gente, até o Principado da São Salvador, beber mais uma(s) saideira.
E verdade final, que saímos de lá como sempre: embriagados, cheios de amor para dar, com a alma encharcada de cerveja e repleta de lirismo.
Grande Zé e grande e carinhosa Dona Nete.
Obrigado pela acolhida.
Voltaremos sempre. E isso não é uma ameaça.
PS. As duas primeiras fotos são do grande poeta das lentes, Américo Vermelho, co-editor deste blog, em ano sabático desde 2012.
As outras fotos são deste humilde e mediano escriba, Washington, que quase sempre deixa de retratar com precisão o que suas vistas ainda vêem com exatidão.
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