terça-feira, 1 de abril de 2008
O som das trombetas
José Carlos Asbeg - nosso correspondente em Ipanema - é o homem que entende tudo da Copa de 58 (a primeira que o Brasil ganhou) e que acabou de fazer um filme sobre ela , escreveu o comovente texto abaixo em defesa dos pés-sujos.
Na foto acima, repete o gesto de Bellini, capitão do escrete canarinho, gesto este que virou estátua em frente ao Maracanã, no Rio.
Confira o recado:
Quando formos finalmente vencidos pela avassaladora cultura americanalhada, com a cumplicidade dos intelectuais que adoram o povo de longe, na televisão, os botequins serão nosso último reduto, nossa última barricada, nossa definitiva resistência cultural, o que a casbar argelina foi para a vitória sobre os franceses ocupantes.
Lá falaremos botequinês, um dialeto incompreensível para os colonizadores; lá riremos às gargalhadas, algo incompreensível para a racionalidade euro-estadunidense; lá contaremos piadas de nós mesmos e chamaremos udilégui (perna de pau) aquele centroavante que cansa de perder gols na cara do goleiro; lá seremos felizes, sim, felizes, outro algo também incompreensível para os mesmos dominadores.
Os botequins serão a ponta de lança de nossa recuperação nacional. De nossa embriaguez eterna, porque felizes, avançaremos como um exército brancaleone, fênixes que somos, improvisaremos uma marchinha, reacenderemos as chamas com cevada caseira, esmagaremos com nossa estrondosa felicidade mestiça os usurpadores de nossas cervejas em garrafas e ressurgiremos como o novo paradigma mundial.
Comeremos tremoços, amendoim com casca, sardinha com farinha frita no óleo, moelas com pão esquentado na chapa, linguiça acebolada com caldinho de feijão coberto de torresmo e cebolinha. ah! o primeiro botequim a gente nunca esquece. O meu foi o do seu Oliveira - hoje se chama Garota de Ipanema. mas esta já é outra história.
José Carlos Asbeg -
Cineasta e jornalista (ou vice-versa)
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