Ele freqüentava sempre aquele bar nada luxuoso, mas que é um aconchego para quem chega de um estafante dia de trabalho para desabafar as mágoas e entrar nas águas. Água não propriamente dita, mas aquela que o povo diz que passarinho não bebe.
Um dia ele desapareceu. Não ia mais até o Bar do Careca. Bar campeão do Comida di Buteco pela sua língua com um molho sensacional.
Boteco que se preza não dispensa uma boa língua. A língua dos clientes que a metem em tudo. Imagine um boteco que, além desta língua ferina e necessária, tem ainda aquela de boi, bem cozida. Língua que derrete na boca.
Estou me perdendo pela língua. Só sei que o homem, empresário, executivo, que sempre ia até o Careca para estalar a língua sorvendo um branquinha, desapareceu. E as línguas, dos homens, começaram a discutir sobre o que houve com o homem.
Num dia de calor, com o bar cheio de convivas, surge uma senhora altiva, salto alto, vestido longo, negro. Vai direto ao Careca e diz: “Sei que ele adorava aqui. Chegava em casa mais tranqüilo... Agora ele não está mais entre nós. Morreu num acidente de carro”.
Era a esposa do homem, que veio dar a notícia ao Careca. E junto ao comunicado trouxe outra informação: “Sabe o que é? É que meu marido tinha uma coleção de cachaças preciosas. Ele guardava com todo o carinho... Pensei muito. Não adianta recusar. Vim aqui para dizer ao senhor que doarei toda a coleção para o seu bar”.
Está agora o Careca pensando em como vai expor a preciosidade daquele cliente que não mais senta naquela cadeira, mas que será eternizado pela sua coleção de preciosidades etílicas. Vida eterna...
O causo foi recontado por mim (Washington), mas a história é real.
Na foto, amigos do Rio de Janeiro e de Minas. O Careca é que está de pé.
domingo, 28 de junho de 2009
Herança bendita
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