terça-feira, 22 de outubro de 2013

Vinicius, um bar e uma garota em Itapuã


Em 1977, fui passar quinze dias em Itapuã e fiquei dois anos. Comecei a frequentar a praia da Rua M. Um dia saindo da praia fui caminhar pelas redondezas, observando a beleza do local e de repente avistei uma birosca no meio de um areal. Resolvi conhecer.

Cheguei e vi uma placa, Bar do Juvenal. Não saí nunca mais dali. Tudo que amo. Boa cerveja, peixes deliciosos, frutos do mar, a beleza da natureza e a simplicidade de vida. Juvenal era uma figuraça, um cara inteligente, vivido, teve uma vida de cigano e usava um chapéu de cowboy.

No meu terceiro dia de bar, estou sendo servida pelo Juvenal quando entra Vinícius de Moraes com uma garrafa de uísque debaixo do braço. Mesmo sabendo que ele morava em Itapuã, fiquei surpresa com a presença dele.

Brincando falei baixo com Juvenal: “Caramba, nosso poetinha, e sempre acompanhado do seu melhor amigo”. Ele ouviu o comentário e riu. Perguntou se eu gostava da bebida e eu respondi: meu nome é Walker. Nesse momento só tinha nós três no bar. Ele perguntou se poderia sentar na minha mesa.

Pô! E ficamos os três no maior papo. Na realidade ouvi mais do que falei. Nesse dia ele me convidou para ir à noite ao bar da mulher dele, Gessy Gesse, e obviamente fui. Passei a encontrá-lo nos dois bares eventualmente.

Chegou a me convidar para ir numa festa na casa dele, não fui. Não gostava da mulher dele, o astral dela era muito pesado, apesar de admirar a sua força.

Vinícius era um homem fascinante. A sua maneira de olhar a vida me embriagava. Para as mulheres, ele tinha sempre o verso certo do poeta, a canção ao pé do ouvido. 

Do bar, aprendeu a ironia, a galhofa, a provocação. Do Itamaraty, ganhou formalidade e autoridade.
Amado por negros e brancos, brasileiros e estrangeiros, homens e mulheres. 

O Vinicius foi o poeta do povo, como você não vai encontrar outro em canto nenhum do mundo, pois trata do cotidiano das pessoas, das pequenas preocupações da vida.

O exemplo que ele deixou foi o de uma pessoa livre e apaixonada. Ele amava a vida, a música, a poesia. Acho que o certo é dizer que ele amava amar. 

Um de nossos maiores poetas, Carlos Drummond de Andrade, afirmou: “Eu queria ter sido Vinícius de Moraes. Foi o único de nós que teve vida de poeta, que ousou viver sob o signo da paixão.”


De certo modo, todos nós desejamos um dia ser Vinícius de Moraes, pela riqueza da sua vida, variedade da sua experiência e excelência do seu canto. E termino esse texto dizendo: “ eu sei que vou te amar, por toda a minha vida...“ 

Com estas rercordações da talentosa Ize Sans, produtora cultural, cheia de espírito e de vida, o blog se redime do fato de não ter homenageado o poeta no dia 19 de outubro, quando completou 100 anos. 
O atraso ele vai nos perdoar por duas razões: primeiro porquê estávamos nos bares, que apesar dos pesares nos lembram ele e segundo porquê este texto da Ize nos redime completamente. 

Um comentário:

Fredogliari disse...

Cara Ize, encontrei seu blog procurando pelo tal bar do Juvenal do qual meu sogro me falou muito bem. Estou indo para Salvador amanhã e gostaria de saber se o bar ainda existe, ou pelo menos onde ele ficava. Meu sogro lembrou que ele ficava proximo ao antigo hotel Quatro rodas, atual Hotel Deville. Poderia me ajudar a encontrar esse lugar? Não encontrei a tal da Rua M que você menciona em seu texto...

Frederico Ogliari.